Portanto, o lugar natural será a palavra. O silêncio também tem o seu lugar, pois o silêncio também fala, embora o seu registo seja diferente. O silêncio fala no olhar, no toque, na pungente mudez da palavra não dita.
A nossa história constitui-se de uma profusão de palavras babélicas, mediada pelos silêncios dos que perdem. Um desses silêncios foi o silêncio feminino. Das mulheres que durante séculos se deixaram ficar na sombra, no (des)conforto da privacidade do território doméstico. Não se escreveram. Deixaram-se escrever.
A conquista da escrita é também a conquista do pensamento - feminino. Da capacidade de se pensar e pensar as relações. O perigo terrífico da libertação da mulher passou pelos bancos das escolas, pela abertura ao fascínio das palavras a negro em papel branco. Pela capacidade de as repetir em voz alta e de as reler no seu íntimo. A partir daí, estabeleceram-se fios condutores, aparentemente frágeis, pequenas teias que lhe deram a oportunidade de se lançar no mundo e reinventar o seu papel.
A mulher ressurgiu no dia em que balbuciou o primeiro texto, reinventou-se no momento em que empunhou a primeira pena e desenhou-se em letras. Continua a escrever-se e a reinventar-se em cada minuto, dia, ano e século que passa. O presente blog apenas pretende fazer parte dessa escrita plural, uma pequena inscrição feminina na tentativa de combater a usura do tempo e da memória.
Aqui, procurar-se-á escrever mulher, mulher na ilha, mulher da ilha. Porque Ilha, tal como mulher, se declina no feminino - e também a Ilha precisa inscrever-se/reescrever-se nas actas do País a que pertence.
Elisa Seixas
4 comentários:
Ela, a ilha, não a mulher, há muito que se inscreveu no país. Não raras vezes foi o país que não a soube ler!
Aí estamos de acordo (alguma vez teria que ser).
Elisa
Acontece algumas vezes: poucas, mas também não despertaria tanto interesse nesta nossa amizade (pelo menos no que a mim diz respeito) se assim não fosse! Apenas nos damos bem a discordar;)
;)
E.
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