1- Participei no Congresso Feminista que se realizou em Lisboa em Junho e ao contrário do que alguns têm escrito sobre o feminismo, acho que este congresso foi uma grande realização, com uma participação de mais de 500 pessoas, cuja maioria foram realmente mulheres ligadas às Universidades, às Artes, às Letras e também ao Activismo do qual tenho muito orgulho em fazer parte.
2- Foi uma grande manifestação dos saberes e da inteligência das mulheres, muita vezes desprezada por quem domina as sociedades e sobretudo ignorada por aqueles que detêm o poder, que preferem manter o défice de participação das mulheres a fazê-las participar nas áreas de poder efectivo, pois isso pode colocar em risco o domínio masculino no mundo. Aí eles não brincam, nem abrem mão - basta ver o que esceveu Miguel Sousa Tavares sobre o congresso para entender que, em nome da “pseuda” igualdade de oportunidades, eles julgam que já deram tudo o que podiam “dar” às mulheres e que por isso não podemos exigir mais. Mas o congresso exigiu mais; exigiu um mundo sem violência, aquela que diariamente cai sobre muitas mulheres e que muitos fingem não querer ver, porque o que reina é a hipocrisia e o falso moralismo, que preferem ignorar o que se passa à sua volta, porque é assim que a sociedade está organizada para funcionar.
3- No entanto bastou uma personalidade pública, da área do poder regional, ver “in-loco” uma brutal agressão a uma mulher, perpetrada por um brutamontes, para se voltar a dizerr que, afinal há violência sobre a mulher e que o Governo Regional, ao contrário do que esta personalidade tem afirmado na parlamento, quando são propostas medidas mais concretas de apoio às vitimas neste tipo de situações, ainda não fez o que era possivel para colocar na ordem do dia medidas contra este tipo de problemas, que envergonham a democracia e os direitos humanos. E bastou este facto para ver a importância de alguns temas serem discutidos no feminino. Sim, porque se não forem as próprias mulheres a encontrar respostas para os problemas que as preocupam, ninguém fará isso por elas, é pena que algumas só acordem quando não há remédio.
4- O que se passou às claras na Estrada Monunental, e a passividade de quem “assistia”, é o pão nossso de cada dia em muitas casas de “família” da nossa terra, daquelas famílias mais tradicionais (algumas bem colocadas) que ainda consideram que a barbaridade de “entre marido e mulher ninguém meta a colher” é um bom “princípio” a manter. Santa hipocrisia! Por mim vou continuar, enquanto puder, não só a meter a colher, como a denunciar que a violência doméstica é um dos maiores flagelos da humanidade, que devia ser banida com pena de prisão imediata, afastamento do agressor da casa comum e com apoios especiais às vitimas para que estas possam viver, e sobreviver, com a dignidade que merecem.
5- E aos que dizem que já existem homens que também são vítimas de agressão de mulheres proponho que as mesmas medidas sejam a essas aplicadas, porque acima de tudo não queremos que os maus exemplos do machismo sejam trazidos para o feminismo. As feministas que se encontraram no congresso querem um mundo mais justo, igualitário, partilhado, diversificado, solidário, onde não se julgue com base no género e onde não exista violência de ninguém sobre ninguém e onde sejam respeitadas as opções de cada pessoa sejam elas políticas, ideológicas, sexuais ou religiosas. Quem está contra isto que tenha a coragem de se manifestar!
Guida Vieira
Publicado no DN Madeira a 16 de Julho de 2008
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